terça-feira, 17 de julho de 2007

ORIXÁ


SEM FOLHA NÃO TEM VIDA.SEM FOLHA NÃO TEM NADA...

XANGÔ MENINO


Meu QUERIDO S.João(Xangô Menino)obra de arte em madeira,há 200 anos na família.

UNIÃO


PAPAI E MAMÃE QUERIDOS:UNIÃO ETERNA,AGORA EM OUTRAS DIMENSÕES.

IRMÃO E CUNHADA,QUERIDOS


Meu irmão BEBETO: MEU AMIGO QUERIDO

Minha cunhada ADRIANA: AMIGA QUERIDA

TOM E MIX QUERIDOS


Tonzinho e Miquinho,meus amores

TOM E MIX QUERIDOS

LICINHA - UM TESOURO


Minha Licinha QUERIDA: A DONA DOS JARDINS!!!

MEU ANTONIO QUERIDO


Meu Antonio QUERIDO

MEU GUI QUERIDO


Meu Guilherme,QUERIDO.

MAGALI (zinha)


E esta é a MAGALI (zinha ),também das CARIOLENÇAS OU VALENCÁRIOS

LORO EUGÊNIO: UM POUCO DE MINHA COPACABANA


Este é o LORO EUGÊNIO - aquele das CARIOLENÇAS OU VALENCÁRIOS

PENSAMENTOS

" EM TERRA DE SACI UMA CALÇA DÁ PRA DOIS.SÓ NÃOVALE BANDA "

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Altamiro Carrilho - A Flauta Brasileira.doc

                                    Neste Informativo estamos cedendo nosso espaço para o Maestro Antonio Rocha que,de forma muito justa,faz sua homenagem a um dos maiores flautistas brasileiros,seu Mestre,seu ídolo,seu amigo,seu exemplo de arte:o músico/flautista brasileiro, Altamiro Aquino Carrilho.

 

               “ ALTAMIRO CARRILHO – A   FLAUTA   BRASILEIRA “

 

                            Uma flauta legitimamente brasileira,cheia de lirismo,bossa e de idéias tão naturais e inovadoras... Eis que, em 1924,na cidade fluminense de Santo Antonio de Pádua,nasce o grande  ALTAMIRO CARRILHO.Oriundo de uma família de músicos e maestros de Banda,aos cinco anos já dedilhava uma flautinha de bambu,assim contou-me Altamiro: - “ Certa vez,vi o filho do vizinho com uma flautinha de bambu e, pedi, ao meu irmão mais velho,que também me desse uma.” Mais tarde,a mesma flautinha de bambu,lhe daria seu primeiro lugar em um Programa de Calouros,onde tocou uma marchinha de carnavaval.

                             Aos nove anos,começa a trabalhar numa tamancaria para ajudar no orçamento doméstico,tendo sido,também,prático de farmácia (nesta época já morava na cidade de Niterói ), profissão que exerceu até poder dedicar-se integralmente à sua arte.

                              Conta Altamiro que,em Niterói,tinha aulas com seu primeiro professor de flauta,o flautista amador Joaquim Fernandes,que lhe passava ensinamentos e,também, emprestava-lhe a flauta quando a sua estava quebrada.A partir daí,Altamiro começa a participar do Programa de Calouros de Ary Barroso.O estilo pessoal e cheio de bossa de Altamiro,aliado a uma incrível capacidade de improvisar,se fez notar e,ele passou a ser soliciado a integrar conjuntos famosos da época.

                              Influenciado por Benedicto Lacerda (outro grande fautista),que o chamava de “meu garoto”,chegou a substituí-lo em várias gravações de intérpretes famosos e,a semelhança entre eles era tão grande,que,no disco,ia escrito: “ Benadicto Lacerda e Seu Conjunto “.Mais tarde,veio a substituir Benedicto e ingressou no “ Regional do Canhoto “ (famoso cavaquinista da época),não tardando a ter o seu próprio Regional quando começa,então,a fase de sua consagração.Gravou com todos os cantores que se possa ter notícia ( de Orlando Silva a Roberto Carlos ),e sem contar que Altamiro não esqueceu jamais de sua infância na “Banda de Música Lira de Arion”.Em1956,com sua célebre “Bandinha”,gravou o seu maior sucesso,o Maxixe “Rio Antigo”,de sua autoria,vendendo cerca de um milhão de cópias em apenas seis meses.

                                Em 1997,tive o meu primeiro contato com esse artista extraordinário, embora já o conhecesse de várias gravações.Foi em uma das edições do “Festival Internacional de Flautistas” realizado pela ABRAF – Associação Brasileira de Flautistas.Daí por diante,não “larguei mais do pé” de Altamiro.Em 2005 telefonei para sua casa fazendo-lhe um pedido: gostaria de executar suas “Variações sobre o tema de Carinhoso” de Pixinguinha e,Altamiro,certamente, autorizou.Aliás,não só autorizou,como fez questão de propositalmente, não me dar a  partitura,para que eu ficasse “bem livre para tocar todos os improvisos gravados por ele”.Na semana seguinte,por ocasião de minha primeira visita à EPM (Escola Portátil de Música onde, hoje, sou Professor de Flauta ), tive uma grande surpresa:além de conhecer outros grandes Mestres,aconteceu um encontro inesperado,com o grande Mestre Altamiro e,como dizem que Deus escreve certo por linhas tortas,fui convidado, por ele próprio,a tocar as tais Variações.Foi um momento ímpar em minha vida e tive a oportunidade de tocar para uma imensa platéia formada por alunos e professores.Confesso que “tremi nas bases” e,em um gesto amigo,pedi ao Mestre Altamiro que tocássemos juntos.Nesse instante,o silêncio reinou... E num clima muito mágico,nós tocamos não só as Variações mas uma série de outras,atendendo a pedidos.Foi um dos momentos mais lindos de minha vida!

 

                   Ao grande Mestre Altamiro Carrilho,minha amizade e gratidão!!!

                                               Valença,06 de julho de 2007

 

                                                      Antonio Carlos de Sant’Anna da Rocha.

 

OBSERVAÇÃO:  Sugerimos a gravação “VIVO EM LA FLAUTA” (YouTube)com

                              Altamiro Carrilho,Antonio Rocha e outros flautistas.

 

                                 

ESCREVO PORQUE VEJO.doc

                                                 ESCREVO  PORQUE  VEJO 

 

                        A frase é de Fernando,aquele mesmo,o Fernando Pessoa,aquele mesmo,o grande escritor português, eternizado em seus escritos,antes de escritos,enxergados.

                        Quem escreve tem um fogo abrasador, que consome sem destruir;tem o arrepio,a inconsciência migrando para o consciente e,assim mesmo,fica em estado de ópio, ao mesmo tempo que,paradoxalmente, lúcido.É um aguçar,é um instrumento que começa a tocar antes do toque da boca ou das mãos,porque repica dentro do peito, como mágica,um rítmo próprio,único,inconfundível,desobedecendo

                  notas,pautas,compassos,métricas,pausas,sinais...

                         Quem escreve, trabalha,como, no xamanismo,em profundo respeito com as forças da natureza.Porisso,obedece,multiplica-se,vasculha-se,avacalha-se,despenca pelo abismo de tudo o que vê.Realmente, é porque se vê, que se escreve.E aí,exatamente aí,é que o escritor se salva de sua visão,separa-se dela,não se deixa esmagar pela dolorosa luz do que é revelado.

                          Quem escreve,apesar de tudo,é um impotente,um louco que se  arvora, na busca das explicações,ao mergulho no mistério;quase um escravo,eternamente acorrentado às palavras,condenado ao caos e à luz,um vidente que incorpora o espírito do que vê.

                           Apesar de tudo,saibam, senhores,escrever não dói.Escrever é,exatamente,o lenitivo,o curativo,o medicamento para todo o enxergar que,este, sim,fere,transpassa e permanece, corroendo até a expressão externa.Saibam,ainda,que, nascer escritor,virar escritor,estar escritor,é uma graça,é bênção,a mais verdadeira,aquela que só pai e mãe sabem doar,é transgressão  e é,como dizia Clarice Lispector, “uma maldição,mas uma maldição que salva “.

                                    Valença,23/04/2007 – Salve Jorge –

                                      Jocely Aparecida Macedo da Rocha – Jô -

 

                                             

 

                          

 

                                

CHORO CHORINHOS E CHORÕES.doc

 

“ CHORO CHORINHOS E CHORÕES “

                                                      

                                                          Jocely Macedo da Rocha  -    -

 

A decisão final e afinal,de participar em fevereiro,do III FESTIVAL DE CHORO organizado pela Escola Portátil de Música/RJ,aconteceu,justamente,em uma noite de rodada de choro,em nossa casa,no Bairro Laranjeiras.

Entre azaléias,rosas,amores perfeitos,orquídeas,coqueirinhos,manacás da serra,malvas e margaridas,folhas de louro e cravo(aquele mesmo que se coloca nos doces),hortelã,manjericão,cheiro verde,tomilho,alecrim e pimentas de cheiro e malaguetas,no meio de meu quintal, percebi que estava sendo assinalada,acatei a conspiração do universo e me deixei aberta a receber a desorientação que,intuí,iria muito brevemente receber.

Estávamos entre amigos,comemorando com muito chorinho(Mestre Pedro Paes no clarinete,Mestre Antonio Rocha na flauta e Mestre Bebeto no cavaquinho),o aniversário de um amigo e, a já, quase presença do Natal.Era o dia nove de dezembro.

O primeiro sinal/estímulo já havia surgido de meu sobrinho Antonio Rocha,há quase um ano atrás: o chamado,a convicção de que eu iria viajar por mares já navegados e misteriosos,conhecidos e desconhecidos, e que,tudo isso,faria uma revolução dentro de minhas concepções musicais e “vidais” – vitais, em verdade.

O segundo sinal,veio pela Kelli,companheira do Mestre Pedro Paes que, me ouvindo tocar e cantar as músicas de Rosinha de Valença e as minhas,afirmou,categoricamente, a importância de minha participação no “ III Festival de Choro”.E,assim,ela me jogou, de vez, no abismo.Abismo das rosas,dos flamboyants,das flores e folhas todas que me rodeavam e dos espaços e abismos de notas,tempos e compassos: flora musical que me  envolveria por lá.

Daí para frente, foi a inscrição.E comecei a “sofrer” a ansiedade e a antecipação de quando se sabe que se fez uma boa escolha.Eu já tinha sido tocada e,mesmo que quisesse,o que,absolutamente,não era o caso,já não poderia voltar atrás.Eu já estava dentro.Agora,era só seguir,rumo às desorientações e mistérios do prazer que a música pode nos dar.

Além das Aulas de Violão e Harmonia,Práticas de Regional, História do Choro, Rodadas de choro e Shows dos Professores,nos dez dias de Festival,Hermínio Bello de Carvalho com sua “Oficina de Coisas”,abriu-nos a possibilidade de construirmos, juntos,um espaço de conversação,trocas e debates,viagens a um passado musical,incluindo o Chorinho e suas variações,muito presente e eternizado  na História da nossa música brasileira.Tijolo sobre tijolo,obtive a graça de participar,juntamente com arquitetos e engenheiros,da construção de uma casa musical,de uma verdadeira “Casa de Choro”,onde o compositor Anacleto de Medeiros foi o grande homenageado.

Em um grande momento de reacender chamas,prestei mais atenção ao que a vida me deu e pude bagunçar coretos,desarrumar conceitos,refazer valores,recriar e escrever partituras em compassos até então julgados impossíveis.

Ao término de um convívio diário com a música verdadeiramente brasileira,com professores maravilhosos,com colegas músicos do Brasil inteiro e do exterior ( 246  alunos),a gente só pode sair diferente.Não melhor que ninguém,apenas diferente,realmente assinalada.E dizem, por aí, que Deus marca, para não perder de vista.Que bom!!!!!

 

 

OBSERVAÇÂO: Realizado entre 3 e 11 de fevereiro de 2007,o III Festival Nacional de Choro,promovido pelo Instituto Casa do Choro,aconteceu no Hotel Fazenda S.João no Município  de S.Pedro (SP),homenageando o Maestro Anacleto de Medeiros,por ocasião do centenário de sua morte.Funcionando como um espelho da Escola Portátil de Música e norteado pelos mesmos princípios didáticos que a regem,o Festival concentra,em uma semana,aulas,oficinas,palestras e shows,tornando-se uma espécie de “curso intensivo de choro”.

Entre outros como: Álvaro e Maurício Carrilho,Luciana e Amélia Rabelo,Paulo e Pedro Aragão,Pedro e Ana Paes,Luiz Flávio Alcofra (meu querido Mestre),Jayme Vignoli,Naomi Kumamoto,Celsinho Silva,Oscar Bolão,Rui Alvim,PauloMalaguti,Pedro Amorim,Cristóvão Bastos,Nailson Simões,Thiago Osório,MarcílioLopes,Nailor “proveta” Azevedo,além da participação especial do poeta Paulo César Pinheiro,nosso também mestre Antonio Rocha,faz parte do corpo docente do Festival.

CARIOLENÇAS OU VALENCÁRIOS

O meu papagaio era a minha Copacabana...O início de tudo:a liberdade.Ele era meu enredo,meu medo,minhas dificuldades,minha estranha idoneidade,minha liberdade.Quando eu passeava com ele, pela Avenida Atlântica,não era ele no meu ombro,não era eu com ele no meu ombro,eram as possibilidades.Ele  era possível,eu era possível.Com ele no meu ombro,tudo era possível.Ele era  a  cidade grande,o  meio da cidade grande que,em verdade,nunca me causou medo nenhum.

O meu papagaio era meu Rio de Janeiro em uma época em  que estar no calçadão da Av Atlântica, à beira do mar,fazia parte de um tempo sem medos,sem balas perdidas,sem preocupações maiores a não ser aquelas mesmas de sempre:o trânsito,o sinal fechado,e o próprio papagaio.

Quando eu chegava em casa,depois do trabalho,Eugênio (o papagaio ),sempre subia as escadas do duplex até alcançar meu quarto.Eu brincava de subir correndo e de fechar a porta,só para ter o prazer de ouvi-lo bicando na soleira,o que ele  fazia, até que eu abrisse.Depois disso, ele,pela colcha,subia em minha cama e ficava sobre meu peito me olhando,vitorioso, desenhando aquele colorido nas pupilas que,só quem tem um papagaio,sabe do que estou falando.

Quando fui morar só,nos mudamos juntos para Botafogo.Logo, logo, ganhei duas gatinhas siamesas e a alegria de “achar” ( ou ser achada por ela,não sei,),uma outra,viralata, na Rua da Matriz.Todas as noites eu me sentava no carpete do escritório com os quatro bichos da casa.Era uma festa pois as bichanas,encantadas com o bicho de penas,queriam,a todo custo,prendê-lo debaixo de suas já afiadas unhas.Foi difícil mas,consegui.A harmonia aconteceu: penas e pêlos passaram a conviver na santa paz de meu santo e não solitário lar.

Eugênio,Ágata,Magali,Aparecida e eu vivemos felizes, apesar das diferenças.À época,cheguei à conclusão que, conviver com as diferenças é mais fácil entre os bichos do que entre os humanos.Hoje,tenho certeza disso, apesar de ter dois cães fox que não gostam muito de penas e outros pelos.Mas a culpa não é deles.Faltou o contato e a paciência de sentar no carpete,mais uma vez.Além de tudo, a cena não se passa mais no Rio de Janeiro (onde todos,homens e bichos), têm que tentar de tudo para uma convivência mais pacífica.A cidade é outra,os tempos são outros e os bichos são outros.Eu mesma desconfio que sou outra. Eugênio e Magali,ao contrário de mim, são os mesmos.As outras duas gatinhas foram na frente,como diz o outro.Aliás,muita gente foi na frente desde aqueles tempos em que meu papagaio era não só a minha Copacabana mas o meu Rio de Janeiro.

Eugênio apesar dos 31 anos,ainda assovia o Hino Nacional;Magali,debaixo de seus 16 anos,ainda brinca com objetos que se mexem, menos com Eugênio.Ainda faz aquele olhar blasè quando ele desce do puleiro (porque papagaio meu sempre viveu solto), e passeia pela sala da casa que,apesar de minha, foi e sempre será de meus pais.

 

                                                   Valença,inverno de 2007  Jô.

cariolenças ou valencários

 

domingo, 22 de abril de 2007



ANTONIO CARLOS, FILHO DE MEU SOBRINHO ANTONIO CARLOS,FOTOGRAFADO PELA SENSIBILIDADE DO TIO ( GUILHERME ANÍBAL - MEU OUTRO SOBRINHO.

ANTONIO CARLOS: Os olhos de papai.

... " EU ANDAREI COM AS ARMAS DE JORGE..."

terça-feira, 10 de abril de 2007

" ESTAÇÕES "

( Este é meu segundo texto para o Informativo da "Casa de Cultura Léa Pentagna ")

Adriana Calcanhoto e Cássia Eller são intérpretes de duas canções: uma de Caetano Veloso,outra,de Renato Russo,que me reportam a um passado feliz,quando meu pai,então funcionário da Central,nos levava a passear na velha Maria Fumaça,o trem da infância de muita gente de Valença.
Na maioria das vezes,levantávamos de madrugada,acordando de um sono que quase não dormíamos,tamanha ansiedade pelo passeio e,víamos,meu irmão e eu,papai vestir seu guarda-pó creme (a proteção contra os carvõezinhos que a Maria Fumaça jogava nos passageiros e que a muitas roupas sujava),e mamãe,cozinheira dadivosa,arrumar os "comes e bebes",que,mal o trem acabava de apitar a saída,a alegria da aventura já nos levava a cobiçar.
Papai,muito jovem e repleto de energia,nosso herói,a cada parada do trem,descia "Naquela Estação" e,pelo puro prazer de se exibir para nós,quando o apito anunciava a retomada da viagem,sempre fazia questão de ficar por último,o que nos dava,sempre,a sensação de que ele ficaria por lá,para sempre,sem conseguir voltar ao trem que,soltando rolos de fumaça,ganhava,pelos trilhos,a liberdade da viagem.Era angustiante ver papai naquele malabarismo,agarrado ao ferro da escadinha do trem,quase que comoanos dizer: "sou omáximo,sou forte,sou invencível,sou imorrível..."E era assim mesmo que ele era,sob os olhos de duas crianças assustadas,mas orgulhosas de um pai tão corajoso.
Muitos anos depois,quando agente já entendia que ele não era mais imorrível,de verdade,ele morreu...Quem ficou na estação fomos nós,como na música de Caetano,meio às avessas daquela época de criança,vendo nosso pai partir num vagão qualquer de uma outra Maria Fumaça.Nós,realmente,vimos o céu fugir.E,também, não dava mais para tentar convencê-lo a não partir...Havia chegado a hora dele ver outras paisagens e nosso coração ficou batendo,parado, "Naquela Estação".Descobri depois,que,ali,exatamente ali,acabavam todos os nossos sonhos de criança.Ali,exatamente alí, "Naquela Estação ", onde durante tantos anos fomos tão felizes,ficariam,para sempre,o guarda-pó, as noites de insônia,os bons lanches de mamãe,os minúsculos carvões que ardiam nossos olhos,quando arriscávamos as cabeças fora da janela,o medo de nosso herói não conseguir alcançar as escadas,a fumaça cinzenta da máquina e o apito,o sinal da aventura,da felicidade,da partida,de encontro a tantos mistérios...
Hoje,voltando da cidade de Petrópolis,onde fomos visitar amigos,passei por um lugarejo chamado "Três Ilhas", um dos lugares para onde a Maria Fumaça,de quem nosso heroi era,praticamente, o dono,nos levou,tantas e tantas vezes na infância.Lá,morava um casal amigo de meus pais.O marido era,também,funcionário da Central.Lá,muitos domingos passamos reinando por entre os quintais de chão batido.Uma revoada de crianças de pais imorríveis,entre pipas,bolas de gude,cavalinhos de bambu,bolas de meia e bonecas de pano.Éramos muito ricos:os pais,as mães e os filhotes,os da roça e os da cidade...
E,hoje,antes de passar em Três Ilhas,eu vinha no carro também lembrando,sei lá por que,do sabor que tinha o arroz com feijão,comido em prato de ágate,quando a gente era criança...Eram uns pratinhos rasos,brancos por dentro e pretos por fora.A comida tinha outro sabor,sabor de outras estações...
E,hoje,é exatamente o dia que marca o início do outono.Talvez,por isso mesmo,eu tenha estado tão em estado de graça." Outono chegou para mim nessa tarde azul, só de amor",diz o poeta." Quisera só viver de saudade para não perder a ilusão,mas você voltou e me fez saber que o amor distante,é tão bom reviver..." continua o poeta...
E,hoje,como na canção de Renato Russo,a gente sabe que chegou um dia a acreditar que tudo era para sempre,sem saber que,para sempre,sempre acaba.
Em verdade vos digo: agora,tudo bem..."Mudaram as estações,mas nada mudou..."Certamente," Naquela Estação ",sempre estaremos,todos,um dia,talvez indo ou vindo,de volta p'ra casa....
Valença,outono de 2007 - Jô -

segunda-feira, 26 de março de 2007

" ROSINHA DE VALENÇA: O ANJO BARROCO "


Este é o título de meu primeiro artigo no Informativo Cultural da Casa Léa Pentagna.
Após ser convidada pela Dilma Dantas,o que muito me honrou,a participar do Informativo,através de uma de suas colunas,resolvi que ,em meu primeiro artigo,faria uma homenagem`a querida amiga Rosinha de Valença.Além de todo o merecimento dessa artista valenciana,penso que o momento é mais que oportuno,em função do dia 8 de março,quando comemoramos o Dia Internacional da Mulher e Rosinha foi a grande representante nossa,durante o tempo em que ocupou esse espaço por aqui.O texto escrito faz parte do conteúdo do livro que venho escrevendo sobre Rosinha de Valença.Pincei-o,dentro desse contexto,e tive o orgulho de escrever minha primeira coluna neste Jornal falando sobre ela: grande pessoa,grande artista,grande mulher.

" T E X T O "

Havia um violão soando nas noites,cujo brilho especial iluminava rostos e,nos rostos,os olhos.Quando ele chegava,carregado por uma figura miúda,de cabelos louros encaracolados,feito um "anjo barroco" (já dizia Nana Caymmi),passava por nós simplesmente,apenas como um violão.Mas quando as mãos pequenas,frágeis mas firmes do "anjo" dedilhavam suas cordas,o ar se enchia de oxigênio puro e respirava-se acordes em êxtase,como ópio.Era Rosinha de Valença o nome daquele violão.Pinho puro,madeira do espaço sideral,prolongamento físico/espiritual do corpo e alma de uma mulher-menina.
Tímida ainda,humilde sempre,íntima da noite,profeta de novos acordes,iluminada,,iluminando,luz de ribalta e palco inteiro,Rosinha nos vinha mansa,sem alardes,sem pressas,certa do encanto e do espanto que nos causava.Uma certeza pura,isenta de vaidades e necessidades de provas.
Rosinha tocava e era tocada.Não havia dicotomia entre o "anjo barroco" e o pinho puro.Como o Rei Midas,tudo o que ela tocava se transformava em ouro puro,notas musicais jorrando de suas veias,de encontro`à madrugada,confundindo-se com a luz e com o tempo passando ligeiro e,ela,estrela cadente,deixando rastros.

Pobres de nós,simples mortais,que ficávamos na noite após a passagem dessa constelação inteira que era Rosinha.Ela nos deixava mergulhados na solidão do homem comum,terrestre,ainda não preparado para viagens às novas galáxias,onde,certamente,hoje mora essa grande pessoa,artista maior,dona e senhora desse grande violão.

Explicar Rosinha de Valença,a artista, é tão simples quanto explicar Maria Rosa Canellas,a cidadã valenciana,caipira,interiorana,tímido bicho do mato,a verdadeira rosa dos jardins de cima e de baixo,e do coreto de uma cidade pequena,quase desaparecida no meio dos vales e montes.Uma virtuose,ouvido absoluto,flor mais que perfeita,em cujas veias não corria sangue mas notas musicais,sensibilidade.Não foi por acaso que,em uma de suas composições,se identificou como sendo,ela mesma, a música e a arte,em qualquer lugar do mundo.Um violão que,de verdade,tocou por uma cidade inteira,por um país inteiro,sem pertencer a lugar algum,cidadã do mundo abraçada a um violão por tantos anos.

Para se entender quando e como tudo isso terminou, é necessário que se faça uma retrospectiva dos tempos finais da carreira de Rosinha.Em 1991,estando há quase três anos em Paris,retorna ao Brasil onde contrai violenta pneumonia.Retorna a Paris enfrentando o rigor do inverno europeu,o que torna impossível seu total restabelecimento.Em março de 1992,quando volta ao Rio de Janeiro para cumprir compromissos com outros artistas,e,com a saúde visivelmente abalada frente às sequelas da mal curada pneumonia,sofre uma parada cárdio-respiratória que a imobiliza por doze anos,com lesões cerebrais difusas e irreversíveis.

Ao mesmo tempo que adoecia fisicamente,Rosinha vivia a tristeza de dois duros golpes recebidos noBrasil.Encontra portas fechadas quando tenta,sem êxito,lançar,junto às gravadoras, seu disco "Crenças" produzidoem Paris,e é boicotada e discriminada por organizadores brasileiros,entre eles Nélson Motta,em sua participação no Festival de Sevilha,na Espanha,onde aconteceria uma Feira de Música com representantes de vários países,inclusive o Brasil.Ela,que gravara seus discos na RCA,na ODEON,na FORMA,na PACIFIC JAZZ,na BARCLAY etc,não podia entender a recusa das gravadoras brasileiras em editar seu novo trabalho.Ela,que tantas vezes brigou pelo músico brasileiro,contestava,agora,a ausênciana Feira de Sevilha,de um instrumentista (violonista),elo de ligação entre as culturas musicais do Brasil e da Espanha.Ela,que chegara a receber da Ordem dos Músicos do Brasil,prêmio como elemento mais representativo da classe,por sua perseverante contribuição para que os músicos brasileirospudessem ter campo de trabalho e sobrevivência digna.

A verdade é que Rosinha,mais do que por uma simples pneumonia,foi acometida pela doença cultural tão comumem um país que trata seus verdadeiros artistas com descaso,fecha-lhes as portas e as janelas,asfixia-os,mata-os de falta de ar,deixando-lhes a alma confusa,repleta de lesões e mágoas difusas e irreversíveis.

Maria Rosa Canellas morreu na madrugada do dia dez de junho.Na madrugada dos artistas,dos poetas,dos boêmios.Na madrugada que,tantas vezes,nos deu guarida,nos sustentou na difícil missão de vivenciar mistérios.Foi conhecer,de perto,a sua "madrinha lua",cansada que estava de olhar para o céu.Tomou rumo,seguiu as fadas "na boca da noite,na beira do mato",na hora certinha que faz os grilos se transformarem em astros.Pediu colo,finalmente!Amadrugou-se, minha amiga! Foi em busca de parceria para suportar tanta luz.Urgente mergulho,como num banho de ervas,como num ato de purificação.Sem saber, passei por essa madrugada bebendo sua partida.Um dia,quem sabe mesmo em uma madrugada,ela aconteceria.Rosinha de Valença morreu de madrugada,quando é bem-vinda a chegada do silêncio,da calma,da mansidão.Passou pela ventania,pelos cataclismas e vendavais.Construiu-se na morada,cresceu dentro dela,guardando espaços para as asas e,para o vôo,a janela.E lidou com essa casa,sem se deixariludir com o teto,sabendo que,fora dele,estava o céu e o brilho das estrelas menores.Partiu,finalmente partiu.Porque era merecimento esse corpo descansar e,esse espírito,ultrapassar,com as asas,a janela.

domingo, 11 de março de 2007

HOMENAGEM

Escolhi o título " A SENHA É O SONHO " para meu blog em homenagem a uma mulher grande: ELISA MARINA DO NASCIMENTO MACHADO,minha amiga,minha irmã,minha companheira,hoje habitando outras galáxias.
Elisa Marina é poetisa e,foi ela quem criou essa frase sobre a senha e o sonho.
À ela todo o meu respeito e amor.
Sem ela meu mundo ficou menor,encolheu.
Só saudades e sua grande poesia.
Jô.