“ ESCREVO PORQUE VEJO “
A frase é de Fernando,aquele mesmo,o Fernando Pessoa,aquele mesmo,o grande escritor português, eternizado em seus escritos,antes de escritos,enxergados.
Quem escreve tem um fogo abrasador, que consome sem destruir;tem o arrepio,a inconsciência migrando para o consciente e,assim mesmo,fica em estado de ópio, ao mesmo tempo que,paradoxalmente, lúcido.É um aguçar,é um instrumento que começa a tocar antes do toque da boca ou das mãos,porque repica dentro do peito, como mágica,um rítmo próprio,único,inconfundível,desobedecendo
notas,pautas,compassos,métricas,pausas,sinais...
Quem escreve, trabalha,como, no xamanismo,em profundo respeito com as forças da natureza.Porisso,obedece,multiplica-se,vasculha-se,avacalha-se,despenca pelo abismo de tudo o que vê.Realmente, é porque se vê, que se escreve.E aí,exatamente aí,é que o escritor se salva de sua visão,separa-se dela,não se deixa esmagar pela dolorosa luz do que é revelado.
Quem escreve,apesar de tudo,é um impotente,um louco que se arvora, na busca das explicações,ao mergulho no mistério;quase um escravo,eternamente acorrentado às palavras,condenado ao caos e à luz,um vidente que incorpora o espírito do que vê.
Apesar de tudo,saibam, senhores,escrever não dói.Escrever é,exatamente,o lenitivo,o curativo,o medicamento para todo o enxergar que,este, sim,fere,transpassa e permanece, corroendo até a expressão externa.Saibam,ainda,que, nascer escritor,virar escritor,estar escritor,é uma graça,é bênção,a mais verdadeira,aquela que só pai e mãe sabem doar,é transgressão e é,como dizia Clarice Lispector, “uma maldição,mas uma maldição que salva “.
Valença,23/04/2007 – Salve Jorge –
Jocely Aparecida Macedo da Rocha – Jô -
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